CAPITAL HUMANO

Cinco razÕes pelas quais as pessoas nÃo dizem o que sabem
As empresas gastam muito dinheiro sempre que empregados e gestores não compartilham o seu conhecimento. Mas para mudar isso, significa entender porque é que eles não compartilham.

Em vez de falarmos primeiramente em gestão do conhecimento, vamos falar de mudanças. Mas, afinal, pergunto a vocês: "Quantos de vocês se sentem confortáveis em partilhar o que sabem?". Acredito que nem todos estejam preparados. Claramente, se as pessoas responsáveis por gerir, criar, promover e liderar o conceito de compartilhamento do conhecimento se sentem desconfortáveis ao fazê-lo, estamos perante a um grande problema, um problema humano, não um problema tecnológico.

E contudo, quando pesquisei sobre o tema, a maioria da literatura enfoca na tecnologia; uma parte na cultura organizacional; mas nenhuma nas inibições e motivações individuais para o compartilhamento.

Existe uma quantidade enorme de conhecimento em todos os níveis de uma organização: sobre o que os clientes necessitam, como os processos podem ser melhorados, ou que novos produtos e serviços podem ser desenvolvidos. Ao tentar capturar e comunicar esta sabedoria cumulativa, as organizações investem muito dinheiro em portais corporativos, software colaborativo e Intranets orientadas para a GC (Gestão do Conhecimento).

Mas o compartilhamento do conhecimento é mais do que a tecnologia que a suporta, mais do que uma estratégia de negócio que visa otimizar a experiência e perícia de uma empresa, e ainda mais do que uma mudança cultural da era industrial para a da informação. O compartilhamento do conhecimento tem a ver, antes de mais nada, com as pessoas.

"Conseguir que as pessoas compartilhem realmente aquilo que sabem é agora necessário, se for deixar que a Internet modernize a organização", diz Larry Prusak, o top guru do conhecimento da IBM.

No modelo perfeito do compartilhamento do conhecimento, os gestores são valorizados não porque sabem mais do que os seus empregados, mas porque eles conseguem rapidamente comunicar o que sabem e porque conseguem que seus empregados façam o mesmo entre si. Os líderes constroem ambientes de confiança e respeito mútuo onde a contribuição criativa é nutrida, e os empregados em todos os níveis entendem que, ser bem sucedido neste mundo em rede, requer cada vez mais colaboração.

Isto é o ideal. A realidade é algo diferente. Os gestores querem praticar o compartilhamento do conhecimento, mas muitas vezes os líderes de equipe guardam informação e rateiam-na só quando é necessário, os executivos pedem input colaborativo quando o que realmente querem é aprovação para decisões já tomadas, e as pessoas não compartilham o que sabem devido a um conjunto de inibidores pessoais e organizacionais.

Estas barreiras humanas subestimam a importância de considerar as questões humanas na gestão de conhecimento antes de depender da tecnologia para melhorar a comunicação.

Isto vem se tornando uma realidade bastante cara. A International Data Corporation desenvolveu uma métrica para medir o que eles referem como o déficit de conhecimento (knowledge deficit). Essa métrica captura os custos e deficiências que resultam da repetição do trabalho intelectual, do desempenho abaixo da média e da incapacidade de encontrar fontes de conhecimento. Segundo esta métrica, o déficit de conhecimento nas empresas da Fortune 500 custa-lhes, anualmente, 12 biliões de dólares.

Além disso, as melhores práticas e lições aprendidas tem o potencial de poupar às empresas muito dinheiro. Kenneth Derr, o anterior CEO da Chevron, viu a situação da seguinte forma: "Cada dia que uma nova idéia não é usada, é uma oportunidade perdida. Temos de compartilhar mais, e temos de compartilhar mais depressa. Eu digo aos empregados que compartilhar e usar melhores práticas é a coisa mais importante que podem fazer."

É bonito de dizer, mas difícil de fazer. Há muitas razões pelas quais as pessoas são relutantes em compartilhar o que sabem. Estão ocupadas e não têm tempo para compartilhar. Esquecem-se de compartilhar. Não querem o trabalho e a responsabilidade adicional subjacente ao compartilhamento. São colocados em projetos que não merecem a sua contribuição (um termo inglês para isto é WOMBAT - waste of money, brains and time).

Aqui estão as cinco razões principais pelas quais as pessoas não compartilham o que sabem:

1. As pessoas acreditam que o conhecimento é poder

"Se eu sei algo que você não sabe, eu tenho uma vantagem sobre você." (Estas citações são de gestores durante a pesquisa.)

Os sistemas educacionais estão desenhados para desencorajar o compartilhamento de informação. Se eu te dou uma resposta a uma questão num exame, e se sou avaliado no final, eu coloquei-me em desvantagem. Muitas pessoas ainda lutam com a ideia de que "se te digo o que sei, perco algo". Quando a avaliação, promoção e recompensa das pessoas numa empresa se baseiam em números relativos, a percepção é de que o compartilhamento do conhecimento vai (sempre) reduzir as hipóteses de sucesso pessoal.

Assim, a primeira solução óbvia é alterar o sistema de recompensa. Encontrar formas de reforçar e recompensar o compartilhamento do conhecimento. Reconhecer e promover pessoas que aprendem, ensinam e compartilham. E penalizar aqueles que não o fazem. Em todas as empresas bem sucedidas nesta área, guardar conhecimento e não construir sobre as idéias de outros têm visíveis, e por vezes sérias, conseqüências na carreira. Na American Management Systems, nivelar o que se sabe, educando colegas, escrevendo, ajudando os outros e ensinando os mais novos, é a forma de se construir uma reputação como líder mundial e de ser promovido a partner.

Em seguida, é necessário entender que há agentes motivadores mais poderosos que o dinheiro. Para 25 mil técnicos da Xerox em todo o mundo, contribuir para a base de dados Eureka com dicas de manutenção é uma oportunidade de se tornarem conhecidos como peritos mundiais. Ser pessoalmente identificado com a solução de um problema difícil pelos representantes da Xerox em todo o mundo, é o maior incentivo que leva as pessoas a contribuir. Na Xerox, eles demonstram que guardar conhecimento não é mais sinônimo de poder, mas que a reputação ganha através do compartilhamento do conhecimento é.

2. As pessoas sentem-se inseguras sobre o valor do seu conhecimento.

"Sinto que as pessoas tendem a subestimar a experiência da vida, que o intelecto tem sido demasiado louvado, e para algumas pessoas sem uma educação formal, é-lhes difícil acreditar que podem trazer valor de uma forma bem diferente."

Há mini-culturas em todas as organizações. Independentemente da cultura global da empresa, os gestores e os líderes de equipe podem criar um clima de colaboração nos seus grupos de trabalho. E o melhor dos líderes tem que encontrar tempo e fazer o esforço necessário para que as pessoas se sintam seguras e valorizadas. Eles realçam os pontos fortes das pessoas ao mesmo tempo que encorajam o compartilhamento de erros e lições aprendidas. Eles estabelecem objetivos claros e clarificam os papéis individuais. Eles ajudam todos os membros a reconhecer o que cada um deles traz à equipe. São exemplo de abertura, vulnerabilidade e honestidade. Contam histórias de sucessos de grupo e desafios pessoais. E, acima de tudo, encorajam e respeitam a contribuição de todos.

3. As pessoas não confiam umas nas outras.

"Eu não conheço pessoalmente os outros membros da equipe e por isso não confio neles."

Uma cultura de colaboração tem de se basear na confiança. Porém, muitas vezes, com a pressa de começar um novo projeto, reunimos grupos de pessoas e logo vamos dizendo "vão trabalhar". Esta abordagem não se revela produtiva já que o grupo não teve tempo de descobrir os pontos fortes e fracos uns dos outros, nem de desenvolver uma visão e um entendimento compartilhado do projeto. Além disso, a mudança de empregados, a dispensa em massa e as aposentadorias antecipadas fazem com que seja extremamente difícil desenvolver a confiança mútua necessária à construção de relações sólidas por toda a organização.

Mesmo a motivação para que os indivíduos contribuam conhecimento para uma base de dados eletrônica depende, em grande parte, do relacionamento entre os membros que usam o sistema. Se os indivíduos não confiam o seu conhecimento aos outros, ou não confiam que os outros vão retribuir da mesma forma, é pouco provável que o sistema venha a ser eficaz. A tecnologia pode facilitar o compartilhamento do conhecimento mas é a confiança que o torna possível.

Uma vez que as pessoas são naturalmente relutantes a compartilhar informação com outras quando não as conhecem suficientemente bem, a solução começa em criar oportunidades para que as pessoas se encontrem e interajam tanto em ambientes formais como informais. E não as apressem. Dêem tempo às pessoas para que criem relacionamentos, avaliem a confiança que uns e outros merecem, e aprendam bem os pontos fortes e fracos uns dos outros para que se adaptem a eles de forma construtiva. Dedicar algum tempo, no início de um projeto, à construção deste "capital social" aumenta a eficácia da equipe mais tarde.

A confiança é frágil. Construída lentamente ao longo do tempo, cresce à medida que as pessoas correm pequenos riscos e esperam que esses atos de fé sejam justificados e recíprocos. E, a não ser que haja reservas de confiança, esta pode ser destruída de um momento para o outro. A boa notícia é que, quando a confiança é sólida, ela torna-se a força que dá energia aos elementos da equipe, que liberta contribuições criativas e torna o trabalho conjunto produtivo e agradável.

4. Os empregados têm medo de consequências negativas

"Eu tinha medo que a minha idéia fosse ridicularizada se fosse um pouco exagerada, ao invés de ser tomada como um ponto de partida no brainstorming."

Qual é o maior obstáculo à inovação? Podemos responder rapidamente: "qualquer processo - educacional, científico ou organizacional que bloqueia o fluxo de ideias."

O conhecimento é altamente conceitual. É acionado por circunstâncias, tal como quando as pessoas certas se encontram no momento certo e descobrem, durante a conversa, que cada uma possui informação de que a outra precisa. Assim, duas coisas parecem evidentes: 1) o compartilhamento de conhecimento tem uma qualidade circunstancial, e 2) é da combinação (e colisão!) de idéias que os dons criativos geralmente ocorrem.

Torna-se então crucial eliminar as barreiras que se opõem ao fluxo livre de idéias. Todas as pessoas têm conhecimento que é importante para alguém, e nunca se sabe quem vai dar uma idéia que se irá tornar parte essencial da solução. Quando as idéias são ridicularizadas, criticadas ou ignoradas, as pessoas sentem-se ameaçadas e "castigadas" por contribuir. A sua reação típica é afastarem-se da conversa. Ao contrário, quando as pessoas são livres de fazer perguntas "tolas", questionar regras e apresentar sugestões novas, mesmo que bizarras, então o compartilhamento de conhecimento torna-se um processo criativo de mistura de opiniões, experiências e perspectivas diversas, ao encontro de um objetivo comum.

5. As pessoas trabalham para outras pessoas que não dizem o que sabem.

"Pessoalmente, tive mais problemas com gestores que guardam informação, do que tive com colegas ou membros de equipe."

Em qualquer organização, a forma como a informação é tratada determina se ela se torna num obstáculo ou num incentivo ao compartilhamento do conhecimento. Na Era Industrial, a gestão da informação era, por norma, deliberadamente obstrutiva. Não se esperava que os empregados contribuíssem para a tomada de decisões nem para a resolução de problemas e, por isso, a informação que lhes era dada restringia-se ao mínimo que a gestão sentia ser necessário para o seu trabalho específico.

Hoje, a colaboração informada é vista como essencial para o sucesso organizacional, e os líderes têm que assegurar que todos os empregados têm acesso a todos os fatos sobre todos os aspectos do negócio, por mais aterrorizadores que sejam, incluindo finanças, produtos/serviços concorrentes e estratégia organizacional. Além disso, isto requer um maior investimento em programas de educação e desenvolvimento pessoal de forma a que os empregados tenham suficiente experiência prática para usar os dados compartilhados.
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